quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Flash 1: A erotização pela palavra

          Nossa vida é permeada por acontecimentos. Nós não vivemos sozinhos. Estamos cercados pela presença do outro, geralmente um outro que nos pergunta sobre coisas que ocorrem conosco ou um outro a quem nos dirigimos para falar sobre o que se passa conosco. Que nos perguntem sobre nossa vida, não temos como evitar. No entanto, falar sobre o que se passa conosco é uma escolha delicada.
          A maneira como respondemos às perguntas do outro sobre nossa vida, dentro ou fora de uma situação de intimidade, define a “grandeza” e a importância que aquilo vai ganhar. Isso mesmo, não é o fato do outro perguntar, que mostra a importância que um acontecimento tem na nossa vida. O que define a importância é a maneira como eu respondo.
          Tratar as perguntas como algo natural e não muito importante é uma maneira de não permitir que aquilo que não tem relevância seja erotizado pelo outro. Qualquer coisa pode ser erotizada, pode ganhar status de interesse, pode ocupar os espaços mais fundamentais, mais cruciais, mais importantes.
          Se respondemos com naturalidade àquilo que, por si, não se enquadra na “norma”, não é vergonhoso, é relativamente banal, tiramos o peso imaginário do que não têm esse peso. Isso tem um duplo efeito. Primeiro, sobre o outro, que não vai ter como se ocupar do que não lhe diz respeito, do que não lhe compete – a não ser nos âmbitos da fofoca, do ciúme ou da insegurança. Segundo, e acho eu, o mais importante, é o efeito que isso produz sobre nós mesmos. Tratando as coisas que me dizem respeito, sem dar a elas o sentido de vergonha, de culpa, de fracasso, eu ganho com isso um olhar mais preciso sobre mim. Quando não faço julgamentos sobre mim e não permito que o outro se ocupe disso, nessa condição, eu posso lidar com o que realmente é importante para mim. Conseqüentemente, posso erotizar somente o que vale a pena e fazer da vida uma experiência mais interessante, mais singular e mais enriquecedora.

Elisabeth Almeida



Um comentário:

  1. De novo beth a pergunta que não cala: o que´é importante para mim fora do imaginário? Haja análise, para sair disso. Beijo.

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