terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Amor, queda, cacos e...

           Um tempo do desatino se apossou de mim, o amor é o tempo da evocação, o tempo onde os pacotes turísticos compunham como intuito maior a tarefa de perscrutar no outro as tênues erosões que sua estrangereidade acometem  no solo alheio.
            Eu a conheci na esquina da vida, a vida é feita de esquinas e acometimentos, contingências por assim dizer, encontro com anões, degenerados, rabiscos e buracos. E também por intermédio de imbricadas facetas aonde eu me arremessava respondendo posteriormente pelo brioso fracasso.          Não! Não me venha perguntar se trato de um elogio do fracasso, antes fosse, pois assim estaria tudo resolvido e sem mais nada a dizer, posição dos cínicos e covardes. A questão é que de algum modo eu sempre sabia que a vida iria me fazer constatar uma perda e que por mais que relutasse, teria que depois juntar os cacos.
            Sim o conluio, a verve do acontecimento, é um ensaio sobre os cacos, aquilo que restou de você, esta dor que começa no intestino e como chama consome a garganta até o marejo conseqüente das vistas.
            Ela não me havia dado escolha, chega um tempo em que o corpo começa a pensar sem as amarras da intelecção, os tratados já não prestam mais para muita coisa e as idéias se tornam delírios, manutenção da defesa que distancia o corpo de um élan outro de possibilidade. Se uso o pronome “ela” é, pois que o terreno mais propenso para tal situação é nos seios de uma mulher, pelo menos nisso a psicanálise acertou, pelo menos nisso meus caros ou caras.
            Fiquei atônito um bom tempo diante de seu corpo esbelto e esguio, era um corpo textual, um corpo de texto com odor, onde se inscrevem vísceras, possibilidades e reordenamentos, foi por intermédio deste corpo que passei a reinscrever uma vida sem muito que pensar, lá na dobra última das pernas dela que botei combustão nas metodologias do aprisionamento, aprendendo assim que um corpo deve viver em combustão.
            Sim, um corpo é uma brincadeira de meninos de interior em um janeiro à tarde, meninos que querem descobrir a química da vida e saem por aí botando fogo em jornais só para ver o exercício do fascínio que a dança do fogo provoca ao fazer vibrar suas almas e seu sangue. Engraçado, isso me arremeteu a lembranças.
            Meninos que não provam desse fogo erótico, depois vão botar fogo em índios e isso sim é algo com que deveras os doutos da psicologia se preocupar, mas eles estão presos de mais na doxa, estão cegos demais para o corpo, para esse erotismo deslumbrante que marca nossas faces com a linha da surpresa.
            Eu não, como garoto em tarde de janeiro, ajudado por uma linda Dulcinéia Del Toboso mandei fogo nos bons modos. Perdi aquela capacidade intelectiva de remendar possibilidades e comecei a virar um fogo ambulante!
            Não, não venham querer compreender isso, um bom texto é um corpo de marcas inteligíveis, neste corpo de fogo só o olhar do outro pode incendiar uma possibilidade e que cada um como Quixote procure por sua Dulcinéia Del Toboso, Cervantes sabia bem disso e é absolutamente risível achar que seus verdugos realmente acreditassem que as celas de uma ilha qualquer da Espanha tenham sucumbido seu corpo vibrante!
            Portanto, não pensem nisso, e se lembrem a queda dói e só resta juntar cacos, pois o que sobrou tem gosto de fruta madura e o resto sempre vira perfumaria: perfumaria (interpretação) barata!

Thiago Paiva

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