quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Reflexões sobre o filme: Triângulo amoroso

          Sob a direção de Tom Tylwer, este filme alemão apresenta o envolvimento amoroso de Hanna e de Simon, casal que vive em Berlim, e se relaciona com um mesmo homem. Não é de um triângulo que se trata. Trata-se da relação de cada um dos dois com um mesmo homem.
          Casado, Simon, repentinamente, se encontra em uma situação erótica com um homem desconhecido. Nada indica, anteriormente, que ele possuía uma fantasia dessa ordem, nada aponta para uma busca desta natureza. O que se dá é da ordem do puro encontro contingencial com um outro e, conseqüente, produção de efeitos sobre Simon, que se entrega, permite e vive a experiência. Não o faz sem uma certa perplexidade, nem sem a expressão de quem não sabe o que está fazendo. Mas ele se entrega.
           Até então, Simon era um homem que possuía uma mulher, vivia com ela. De um momento para outro, é um homem que, num encontro casual com outro homem, numa situação absolutamente cotidiana, se vê sendo tocado sexualmente por esse desconhecido e permitindo. Experimenta o prazer que aquele lhe proporciona, na surpresa da situação. Sem recusa, sem falsos pudores, permite e desfruta. Cena carregada de força, de erotismo, de entrega, permeada pela incompreensão e pela suportabilidade. Cena de entrega e permissão. Apenas.
            Logo depois, naturalmente, ele expressa sua perplexidade dirigindo-se ao outro homem: "não sou gay". Talvez esteja dizendo isso a si mesmo. A questão que o filme coloca não é a de ser ou não ser gay, a questão é: há um corpo e esse corpo goza. A resposta que o homem desconhecido lhe dá é: “apenas não considere a realidade anatômica”. Apenas isso. E daí em diante ele vive a experiência de novos encontros. Diluída sua "identidade sexual", ele se relaciona tanto com esse homem, quanto com a mulher com quem já vivia.
           Antes desse acontecimento, sua mulher havia se sentido atraída por um outro homem e mantinha encontros eróticos com ele. Ocorre que esse "outro" de sua mulher é o mesmo "outro" desconhecido com quem Simon se relaciona.
           Ninguém sabe de ninguém.
           Num dado momento, o homem desconhecido quer ir na casa de Simon. Este lhe diz: “Eu não vivo sozinho”. Até então os encontros do desconhecido com Simon se dão em sua casa, onde vive só.
           Em outra cena, o desconhecido quer ir na casa de Hanna. Esta lhe diz: “Não vivo sozinha”.
          Tudo parece ir bem. Suportam cada um por si seus desejos, suas escolhas, suas entregas amorosas. O homem desconhecido se relaciona sexualmente com Hanna. Ela se entrega a isso. Ela se relaciona com seu marido. Seu marido se relaciona com o desconhecido e se relaciona com ela, cada um a sua vez.
            Até que um dia ela vai até a casa do homem desconhecido, desesperada porque descobriu que estava grávida. Debaixo da chuva, bate na sua porta insistentemente, exige que ele abra. Ao entrar, ele lhe diz: “Eu não estou sozinho”. A figura de Simon surge no campo visual de Hanna quando esta está revelando ao homem desconhecido a gravidez, que certamente é dele. Simon escuta sua mulher dizendo ao desconhecido sobre a gravidez. Hanna vê seu marido saindo da cama do homem desconhecido.
            É uma história que nos convida a inventar um término ao sabor do desejo de cada um de nós.
            De qualquer forma, nos propõe algo. No lugar de um drama recheado de pedidos indignados de explicações, no lugar de rancores de propriedade, o filme termina em uma cena de alta sensualidade, amorosa, desprovida de sentido, desprovida de anatomia definidora, de possessividade.
            Cena de desejo puro. Mais uma, cheia de beleza, que o cinema pode nos proporcionar.

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