terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Flash 5: O que é a realidade psíquica e como ela surge?

         Temos pelo menos duas realidades: a realidade do mundo e a realidade psíquica.
         O que é a realidade do mundo? Talvez, a concretude de uma cadeira, um colchão, um sorvete, um copo de vinho, uma cachoeira, um laço de fita. Tudo isso existe por si ou construído pelo homem, e ganha um sentido quando eu vejo, deito, tomo, bebo, me banho, uso.
         Mais além da concretude das coisas, existem os dispositivos que determinam como é que elas podem ser usadas. São eles: a moral, a religião, a ciência, a filosofia, a linguagem. Ao estabelecerem “as regras do jogo”, estabelecem privações necessárias para que um homem possa conviver no meio de outros. Essas privações impõem “um custo”, um preço, uma cota de satisfação da qual se tem que abrir mão.
         Abrimos mão e não abrimos. Aqui entra a realidade psíquica. Quanto do impossível a ser vivido não é vivido nas fantasias? Quanto do que não pode ser dito, não pode ser feito, não pode ser realizado não é vivido no mundo interno?
         Esse é um dos aspectos da realidade psíquica. O aspecto transgressor, que recupera uma parte da satisfação impedida pelos dispositivos. Nesse sentido, a realidade psíquica transgride a privação o tempo todo. E o faz para salvar-nos de um achatamento, de um aplastamento, onde seríamos meramente robôs. Totalmente entregues aos dispositivos, o que temos são sujeitos medicados para qualquer sofrimento ou qualquer inadequação; sujeitos convertidos, fanáticos, que se matam e matam; pais, filhos, educadores, parceiros amorosos, que, em nome de protocolos ou de regras impõem sobre o outro sua tirania e sua violência (velada ou não ).
          Da realidade psíquica podemos dizer que é aquilo que resta no homem depois da inserção dele no campo da cultura ou do simbólico. Aquilo que mantém sua “inadequação” parcial (e algumas vezes total) ao submetimento dos dispositivos. De uma certa forma, aquilo que o salva deles.
          Dela podemos dizer também que, ao contrário do que se prega, nela habita a fresta por onde o homem respira, o espaço onde ele teima em sua singularidade, a possibilidade que ele tem de criar, de inventar, de sonhar.
          Sobre o seu surgimento, teoricamente muita coisa pode ser dita. Fico apenas com o seguinte: ao ser marcado com a palavra, marcado pelo outro mesmo antes de nascer, há algo que fica fora, inapreendido, como que solto do mundo externo; indomável, coexiste com a realidade do mundo, porém, escolhe o tom da cor que vai ver, determina o sentido do que vai ouvir, significa as experiências pelas quais vai passar. Singularmente, não no plural.

4 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo. Gostei da linguagem simples,direta e objetiva com a qual você explicou o que muito psicanalista gastariam páginas e mais páginas pra dizer. Andreia de Paula
    http://andreiadepaula.wordpress.com/

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  2. gostei muito de saber dessas coisas

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  3. wendel ( Graduando do curso de Psicologia)22 de abril de 2017 às 04:18

    Parabéns! Eu pude compreender facilmente a respeito desse tema tão importante, as exemplificações deram um significante simples. Recorri a outros artigos mas traziam uma linguagem muito prolixa.

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