quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Culpa, sofrimentos e amores

            Estamos nos perguntando como sair da oferenda do sofrimento no amor. As perguntas que havíamos deixado abertas no texto “Eu te ofereço meu sofrimento” eram:
            - Como amar sem excluir, sem judiar, sem confrontar, sem se alienar no outro?  
            - Como amar sem sofrer e sem produzir sofrimento no outro?
Para pensar um amor fora da oferta do sofrimento, foi necessário perguntar sobre o sofrimento. Por que, nas relações amorosas, essa oferta? Por que, no momento onde meu desejo coincide com o teu, o que ambos ofertamos produz o efeito opaco, sem graça, sem sabor?
Estamos propondo que esse sofrimento esteja articulado com a culpa. Explico: Eu desejo. Permanentemente, no âmago da minha solidão, no que me pertence, e só a mim pertence, eu desejo. E experimento isso como algo inadequado, errado. É muito difícil suportar algo que me pertence e que não tem o aval da compreensão do outro, do entendimento do outro. Então, eu desejo. Trago comigo essa experiência estranha e solitária. Muito fácil trazer junto a culpa por desejar. Desejar me distingue do outro, me diferencia, me coloca fora do alcance dele. Fora do alcance da comunhão com ele posso, facilmente, experimentar isso como culpa. E culpada, inevitavelmente, sofro. De alguma forma sofro. Seja no corpo, seja na falta de entusiasmo na vida, seja no que for. Minha vida toma a tonalidade do sofrimento. E aí, quando te encontro, o que tenho a te oferecer é o sofrimento. Sofrimento vestido de “amor”. É o que tenho para te dar. Se o que se busca no amor é o “par”, minha oferta de sofrimento visa encontrar com o seu sofrimento também. Eu sofro, você sofre, aí estamos juntos. Completa-se o circuito. 
Com isso chegamos à proposta de pensar a culpa como resultante do desejo, como estranho a mim mesmo e estando na origem do sofrimento imposto a si e, depois, ao outro.
Chegamos à culpa como a carta do “jogo do amor” que determina que o sofrimento será a música, a oferta, o fruto colhido em cada encontro.
E nos perguntamos:
Qual a relação entre as dificuldades amorosas – os impossíveis, os sofrimentos amorosos – e os nossos primeiros amores?
Haveria, além da culpa de desejar, uma culpa gerada pelo movimento de substituição dos primeiros e fundamentais amores, pelos amores outros?
            Quais as relações entre desejo e amores?

(texto elaborado a partir do encontro do dia 01 de novembro de 2011, com a colaboração de Ana Paula G. Garcia).

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