quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Flash 2: As palavras no amor

Ela procurava as palavras que poderiam talvez lhe fazer alguma companhia, amaciar o choro, aliviar a alma. Lembrava que um dia havia se apaixonado e que quis aquele amor. Agora, quando já não sabia mais o que foi feito do amor, perguntava:
Qual o papel das palavras num amor?
O que são palavras necessárias?
Há um momento em que se pode prescindir das palavras?
Há uma diferença entre palavras que se diz a si próprio e palavras que se diz ao parceiro(a)?
Há palavras mágicas?
Não consigo imaginar um amor sem palavras. Elas são a música da dança do amor.
Por mais que saibamos que nos encontramos sempre na dificuldade de dizer qualquer coisa, nós usamos as palavras como elementos de ligação com o outro e de ligação conosco. 
Palavras necessárias podem ser dividas em duas categorias. Na primeira estão aquelas que precisamos dizer para nós mesmos, sobre nós mesmos, sobre nosso desejo, sobre nossa singularidade e sobre nossa relação com nossa história de vida. São palavras, na maioria das vezes, muito solitárias, que tentam, de alguma forma, nos ajudar a compreender como pensamos nossas vidas. Na segunda estão aquelas que precisamos dizer ao outro, porque dizem respeito a nossa relação. Essas palavras são muito especiais, tanto para quem as diz, quanto para quem as escuta. São fontes também de muitas dificuldades, de muito mal entendido. Mas são, principalmente, fontes de possibilidades nas quais podemos apostar.
A diferença entre as palavras que se diz a si próprio e as palavras que se diz ao parceiro é uma questão delicada. Existem coisas que precisamos nos confrontar dentro de nós mesmos. Que precisamos esclarecer e arcar com elas. Isso quase se aproximaria de algo que pode ser expresso assim: “esse inferno é meu”. Muitas vezes se usa desse mecanismo de dizer algo ao outro como uma forma de não se responsabilizar pelo que cabe a si. Nesse sentido, as idéias de “transparência”, de “livro aberto”, caem por terra. O que se diz ao outro (ao parceiro) seria interessante que fosse o que é importante, o que erotiza a relação, o que expressa o desejo e o amor.
            Para agüentar o “próprio inferno”, para agüentar a diferença que fica ressaltada quando se está com o outro, para agüentar a aposta no escuro que é cada encontro, é necessário fazer dele uma nova invenção. E essa invenção do amor se faz com o bom uso das palavras e com o suportar dos momentos do silêncio. 
            O momento em que se pode abrir mão das palavras talvez seja o momento mais próximo das palavras mágicas. Talvez seja o momento onde o que se diz não é da ordem de uma explicação dada, nem pedida, não é uma acusação contra si, nem contra o outro. É o momento da aposta, do convite. Momento este que não considera a história amorosa vivida nos seus aspectos de desencontro e sim no que perdura do amor. E isso não tem garantia. Tem apenas desejo.


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