quarta-feira, 16 de março de 2011

Rede Social

         Na semana que se passou, debrucei-me sobre o filme “Rede social”, que conta a estória do criador do facebook.
        Fiz este exercício por dois motivos: o primeiro é de que há tempos passei a me preocupar com o que está acontecendo em minha volta para que de forma mais apurada pudesse realizar uma leitura menos ingênua dos acontecimentos, instituir uma clínica é dialogar com o mundo e suas questões, problematizar este mundo em forma de pergunta e escutá-la por intermédio da boca da alteridade, difícil exercício, mas clínico. O segundo motivo é que em muitos veículos de informação tenho me deparado com uma série de interpretações que me causam espanto pela maneira como o acontecimento é traduzido e dado de bandeja para uma população cada vez mais ávida por receitas morais que indiquem a dose exata de comportamento a ser ministrada.
        Colocar o facebook como uma ferramenta que testemunha o enfraquecimento dos laços sociais, como um espaço que ao possibilitar amizades virtuais poderia estar influenciando o modo como a “philia” se articula na contemporaneidade em uma perspectiva moralista e negativa me parece uma forma de leitura absolutamente ingênua.
        Entretanto é o que tenho observado enquanto crítica comum no que tange os recursos virtuais.
        Articulo por quê! Em primeiro lugar Lacan muito bem nos chamou a atenção que toda a realidade é estruturada em ficção, isso significa, simplesmente dizer que não vejo o amigo do face menos qualificado do que o amigo “normal”. O simples fato de convidar ou receber um convite faz borda à toda trama simbólica de que precisamos para sobreviver.
        Em um segundo ponto, acho que é preciso estarmos atentos de que esta realidade virtual pode fazer suplência para uma série de situações em que desprovidas de um esteio ou dispositivo supostamente mais arrojado as pessoas possam se apoiar em tal realidade para se ordenarem psiquicamente. O amigo virtual de certa maneira me ordena psiquicamente na mesma medida do que o amigo dito normal. Ops???, grande golpe narcísico!
        E em terceiro lugar percebo que espaços virtuais como o facebook nos convidam a reestruturar nossa noção de espaço e tempo, jogando por terra fronteiras e limites, ou seja, percebo estes espaços como uma possibilidade de participação global não antes imaginada, um espaço a ser pensado sim como uma nova maneira de se articular a subjetividade, entretanto que viabiliza uma flexibilização sem escala sobre o que vem a ser o construtor da identidade e seus posteriores reflexos.
        É muita quimera ou quem saiba delírio acharmos que a tecnologia ou a robótica, ou qualquer nova invenção será o prenúncio do apocalipse.
        Estamos em apenas mais um dispositivo, talvez mais democrático e flexível, talvez menos violento e agressivo, o povo egípcio que o diga!
        Vejo com bons olhos novas saídas e vejo com olhos ainda melhores perceber que nossas questões sempre serão de amor, quanto a isto o criador do face que o diga!

                                                                      


Thiago Paiva


2 comentários:

  1. Bacana Thiago!
    Não vi o filme ainda mas fiquei mais curiosa, pois afinal esse olhar diferente do "canto geral",que tem sido exercitado,eu diria,
    com a leitura do Baricco,e com tudo q nossos amigos de grupo tem escrito,tem sido um sopro de ar novo num ambiente um tanto empoeirado de passado e de visão viciada a olhar sempre pro mesmo angulo.Claro, só vai ver o q já foi visto, sempre!
    Concordo com vc, como esse olhar para outras possibilidades torna mais leve, não só a vida como a clínica,como pode ser até divertido virar o lado e surpreender-se com o q aparece!
    MH

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  2. Thiago, fico pensando nessa questão do julgamento que fazemos, precipitadamente ou amadurecidamente, de tudo e de todos. Orkut, Facebook, Twitter,... são instrumentos dos quais as pessoas podem se identificar ou não; podem se aproximar, ver como funciona, podem pensar que usos podem fazer deles,... noto que as pessoas usam esses espaços por um tempo, se afastam convictamente, se reaproximam com urgência, fazendo-os parte de si – da sua comunicação com o mundo – numa relação amor-ódio-indiferença. Ao nosso uso (no uso das nossas possibilidades e criatividades), instrumentos têm a função que damos a eles, de acordo com as nossas necessidades. É a tal questão que você pontuou hoje: Demanda - Desejo. Mas na dificuldade de suportar o singular (que Beth tem trabalhado como sendo uma dificuldade de suportar-se), julgamos os instrumentos, as pessoas que os utilizam e a forma com que os utilizam. Nesse viés, nessa forma de inscrição no mundo, construímos muito pouco de nós. São as críticas, os determinismos, as convicções,... como escudos, muros, barreiras, desvios,... Fico grata por te ouvir falar sobre essas coisas e retribuo com uma dos bastidores de terça. Brinquei que quando o Johnny chegasse iria perguntar se ele era real ou virtual e a Beth logo exclamou: “- É claro que ele é virtual!”. É,... Johnny nos faz repensar muitas coisas a respeito de tempo-espaço; fronteiras-limites,... (risos).

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