sexta-feira, 27 de maio de 2011

O encontro da física com a psicanálise

                 

Existimos enquanto seres falantes num universo onde a linguagem ordena o mundo da matéria. Qual a questão desta existência? Tentamos marcar um encontro com alguém que de outra perspectiva olha o mundo no viés da materialidade universal, um físico. Tentamos marcar um encontro possível entre duas correntes que se atravessam: a matéria e a vida psíquica.
Freud em seu texto Mal Estar na Civilização diz que o sofrimento humano vem de três fontes: do corpo, da relação com o outro e do mundo externo. Vejo nestas três fontes a força bruta da matéria. Esta força é que faz com que acreditemos que a coisa exista em si mesma. No corpo esta força se mostra contra nossa vontade apontando a morte inevitável da carne, na relação com o outro a mediação da palavra tentando abrandar a irremediável diferença entre eu e o outro, e no mundo externo a palavra que via a ciência tenta controlar a imponderável natureza que a todo o tempo nos ameaça .
Existimos enquanto corpo mergulhado na linguagem. Aliás, consideramos que só existimos aí, seja esta linguagem qual for: digam-se os mudos e surdos, os neuróticos e psicóticos. Se a linguagem escava, faz buracos no corpo de carne, ela tem uma pressão, uma força.  Na clínica observamos a força da palavra na vida de nossos pacientes. Vemos também que nossa pulsão enquanto presente na transferência desloca esses buracos escavados.  Um sujeito chega ao consultório acreditando que suas marcas definem um destino. No trabalho de análise o que fazemos é convidar o sujeito a duvidar das aparências dos buracos que o mundo da linguagem o mergulhou. Assim nas nossas discussões clínicas trabalhamos como com nossa presença (analistas) desmanchamos a força destas pulsões, usando da própria força pulsional. Usamos do próprio barro que nos constitui para deslocar nossa constituição. Haja pulsão em um analista!
Existimos? Sim.  Enquanto matéria investida de pulsão (a de infinito). Enquanto corpo material a ser trabalhado. Assim temos a matéria fluída, fluída de palavras, fluída de significante. Fluída, etérea, pois nada prende a coisa a seu significado e por isto que o trabalho analítico é possível, pelo deslizamento desta pulsão significante.
Nosso corpo material adquire possibilidade de contorno (dentro e fora) pela travessia destes sulcos da palavra. Pelo investimento de outro corpo que também sulcado faz força no nosso corpo.
Existimos? Sim. Temos matéria. Nossas relações não são fáceis justamente porque esbarramos nesta materialidade investida que sempre nos confunde.
Talvez o que podemos pensar é que apesar de toda força que nós vimos na brincadeira dos imãs, nosso lugar de analistas seja realmente sustentar uma posição de materialidade diferente, capaz de atravessar este campo de força. Nem negativo nem positivo. Algo que fica fora da palavra mais que ainda assim possui materialidade suficiente de desejo para acreditar nas possibilidades deste atravessamento. Talvez possamos pensar que o material que usamos para atravessar este campo de força seja a miragem.
Se nossa existência tem esta constituição então se trata de uma miragem? Sim, pois se fosse de outra forma talvez não suportaríamos a dureza da vida. Volto a uma frase que diz bem desta miragem: na vida o sentido que damos as coisas é sempre ilusório. “Ainda que nossa ilusão veja a vida como uma rocha podemos quebrá-la com a força suave da gota d’água que beijando a rocha sem violência suporta sua superfície rígida e a escava lentamente até que a rompa”. O podemos fazer é ser gota d’água beijando a dureza projetada por nossas ilusões, ou seja, permitindo que a verdade não se fixe em nenhum lugar.
Felizes? Somos nós que acreditamos que esta verdade é fluída. Não escora em nenhum lugar. Liberdade!

Uma pergunta: Eu existo?
Um encontro: Psicanálise e Física
Três  convidados: Gumercindo Lúcio Naia, Engenheiro, estudioso de Física, Maurílio Salgado, Físico, Márlio Vilela Nunes, psiquiatra e psicanalista.
Onde: casa da Beth Almeida
Quem: os amigos que se encontram às terças e às quintas
Ingredientes: conversa amiga, delicada, regada à caipirinha do Dani, pé de moleque do Gú, galinhada do Aloysio, com direito a brincar com os imãs.
Quando: 21 de maio de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário