domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cisne negro


     Um conto de fadas está na origem deste filme: O lago dos cisnes. Dele já foram extraídos um balé e uma ópera. Sob o olhar de Darren Aranofsky um espetáculo de beleza, duro e sublime se desenrola diante do nosso. Talvez o impacto seja comparável ao que sentíamos quando ouvíamos pela primeira vez um conto na infância. Ficava inscrito e nos acompanhava pela vida afora, marcando-nos definitivamente.
    Tratá-lo-ei como posso nesse momento, a partir do que ressoa em mim:
    Sim, há alguém no seu caminho.
    Há uma mãe ou um pai que não conseguiu tudo o que quis em sua própria vida. (Ainda bem.) E que se virou com isso. (Ainda bem.) Ou ficou apenas com um pouquinho de inveja de você, e te amou, conseguiu colocar em você um olhar que refletia uma imagem melhorada dela(e). Doeu um pouquinho, mas curtiu.
   
Há talvez uma mãe ou um pai que justamente por não ter conseguido tudo que quis, te odiou, pois você consegue algo (que não é tudo) e vai em frente.
    Sim, há alguém se precipitando para tomar o seu lugar. Tramando, trapaceando, armando para você.       
    Prontinho para seduzir, brilhar, no seu lugar. Acredite. Desconfie.
    Encha-se de raiva (ela move) viaje em todos os meandros que a via paranóica pode ter oferecer, compre todos os pacotes, delire à vontade.
    Derrube tudo que estiver à sua frente, meta os pés se necessário for (às vezes, é.)
    Mas vá.
    Há alguém no seu caminho. Não duvide.
    “Cisne Negro”conta uma história que pode ser a de cada um de nós.
     Sim, buscamos a perfeição. E antes de fazermos uma crítica “inteligente” a isso, nos reconheçamos nisso.
     Nossa busca de perfeição é atrapalhada e atravessada o tempo todo pela perda da espontaneidade, da soltura, da leveza. Muita precisão e pouca vida.
     Sim, temos medo da loucura. E enlouquecemos de medo. Temos medo de não dormir o suficiente, de não nos especializarmos na perfeição, de não estarmos bons ainda.
    Sim, muitas vezes nosso corpo paga o altíssimo preço da força contida, do desejo travado.
    Muitas vezes a loucura escondida no corpo é eleita frente à outra, preferida e mantida. Escondemos no corpo a loucura de um certo deixar-nos, a permissão de quebrar as regras, chutar o pau da barraca, ligar o botão do f...
    Sim, o mundo existe, o outro existe, a perfeição é uma meta que brilha.
    Mas quem está no seu caminho... quem está no seu caminho é você, você mesmo, always...

Elisabeth Almeida

Nenhum comentário:

Postar um comentário