segunda-feira, 16 de abril de 2012

Flash 7: Eu não sei se isso é para mim.


 Fique tranqüilo. Não é. Nada é “para mim”. Nem a chuva, nem a música, nem o ódio,... nem o amor é “para mim”.
Que eu não me sinta na obrigação de pegar nada.
Eu só pego quando eu acho que algo é dirigido a mim. Tentarei esclarecer esse “pegar”. É quando, diante de uma situação, eu me sinto perseguido ou privilegiado, me sinto escolhido ou excluído. Se me sinto assim, tenho que confrontar ou estar à altura. Tenho que dar conta ou deixar de vez.
Geralmente, o achar que as coisas existem endereçadas a nós faz com que nos sintamos culpados por não correspondermos a elas ou faz com nossa exigência aumente cada vez mais. E, na verdade, não chove para mim. Chove apenas e a música existe, independente de mim.
O ódio, que aparentemente se volta contra mim, é de quem o sente. O amor, que aparentemente se dirige a mim, é de quem o sente.
Sim, há outras coisas que eu posso “pegar para mim”. Coisas que estão no mundo e que podem me interessar e eu posso achá-las bonitas, trabalhar com elas, desfrutar delas. Nesse caso, isso diz respeito às escolhas que faço. Muito diferente de algo ser endereçado a mim é a situação onde eu escolho intervir ou me relacionar, onde eu sou responsável pelas relações que estabeleço e tenho que arcar com as perdas e ganhos, arcar com os impossíveis e com os limites.
EU NÃO SEI SE ESTOU À ALTURA...
Não. Não estou. Ainda bem.
O mundo é bem maior que a gente. Os problemas são mais complexos que a linearidade oferecida pelo nosso raciocínio. As circunstâncias e os acasos mais intensos e mais poderosos que nossos controles.
E isso não é um problema. Em si, não é. Posso fazer ser. Não é difícil. Faço ser quando, diante da complexidade de algo, me encolho e paraliso. Faço ser quando, assustada, aciono todos os mecanismos de controle ao meu alcance e, então, consigo fazer um grande problema. Em contraposição, diante da grandeza e da complexidade, posso dar tudo de mim, mesmo “meu tudo” sendo insuficiente para remendar o mundo. Posso, responsavelmente, tomar os cuidados que estão ao meu alcance, mesmo sem poder garantir os resultados. Ou seja, posso interagir com a imensidão do mundo e com o imprevisível.
Minha interação será sempre criativa, singular, exigindo de mim apostas talvez sem referências, movimentos sem receitas. 


Elisabeth Almeida 

2 comentários:

  1. Obrigada por tão belas e profundas palavras num momento tão especial que vivo.Gratidão.

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  2. É imensurável minha admiração por você.

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